Saturday, April 22, 2006

Faith

E a noite só estava começando. Ao lado dele outros milhares de fiéis se dirigiam para a praça central da cidade. Caminhavam lentamente, a passos constantes, sem se esquecer dos seus amuletos de sorte que se repetiam entre muitos ali. Alguns chegavam a caminhar distâncias inimagináveis para eles mesmos se aquele não fosse um dia especial. Caravanas de outras localidades chegavam aos montes. Pessoas de todas as classes sociais participavam dos ritos. Aqui não importa se você é senhor feudal ou executivo de uma empresa de pesquisas na internet, o que vale é o quanto você o adora. A cerimônia começa com a apresentação de oferendas para deuses menores, que quem sabe um dia, serão tão adorados quanto a atração principal da noite. As luzes se apagam e é chegada a grande hora. Tochas estão acesas nas mãos dos fiéis. Luzes se acendem e Keith Richards toca os primeiros acordes de Satisfaction. Num outro canto do mundo, Ronaldo faz um gol no último minuto de jogo pelo Real Madrid e seus fiéis vão ao delírio. Nossos deuses, que ainda podem ser classificados de acordo com a antigüidade: amor, beleza, guerra, mar e até do sono (Chet Baker me dá um sono danado), ganham mais e mais orações, mais e mais oferendas, mais e mais fiéis que estão dispostos a tudo por eles. E isso por quê? Porque eles são humanos como nós, como assim eram os deuses gregos e suas variações romanas. A eles estava permitido o direito de pecar, ou melhor, de ser humano. O cristianismo acabou? Ou na verdade ele nunca existiu? E na cama ele deita, mas nunca dorme sem antes rezar o Pai-nosso.